Tratando-se de uma duna móvel, estas plantas ajudam a uma melhor fixação da duna que, por sua vez, é sem dúvida o primeiro travão para as investidas marítimas. A segunda paragem levou-nos à Arriba Fóssil, uma duna fixa que revela bem esta sua característica pelo próprio porte das árvores, no fundo são as suas raízes que fixam a duna, no entanto, nalguns pontos se verifica que quando se destrói o ecossistema a areia retoma o seu lugar.
Desde logo se percebe que as dunas são um ecossistema bastante frágil pois depende de uma interacção saudável entre as marés, o vento e as plantas. Verifica-se, no entanto, e a Caparica é bom/mau exemplo disso, que a maioria dos bares se implantam justamente sobre as dunas, esventrando-as sem que haja o respeito, quiçá o conhecimento sobre a importância que as mesmas têm para a preservação do areal da praia. É minha percepção que o indivíduo comum desconhece que estas dunas se comportam dinamicamente num equilíbrio entre acumulação de areia varrida pelo mar e pelo vento e reposição da mesma na praia. Só este desconhecimento e o lucro fácil justificam proliferação destes bares como se o desafio ao mar não fosse pago pela destruição que o mesmo inflige nessas construções; não só vimos o exemplo do restaurante em queda eminente na Lagoa de Albufeira como há o caso recente na linha das praias de S.João de Caparica, onde várias construções deste tipo cederam às águas. | Estorno (Ammophila arenaria) Camarinha (Corema album)
Este avanço do mar, transgressão marinha, é no entanto um fenómeno natural assim como outrora foi a regressão marinha, fenómeno que deu origem à emersão da área onde hoje existe a Costa de Caparica. A segunda paragem levou-nos à Arriba Fóssil, uma duna fixa que revela bem esta sua característica pelo próprio porte das árvores, no fundo são as suas raízes que fixam a duna, no entanto, nalguns pontos se verifica que quando se destrói o ecossistema a areia retoma o seu lugar. |
Clica na imagem p/ouvir Couve-marinha (Calystegia soldanella)
| Das árvores principais, fixámos o carvalho português (folha larga), o espinheiro preto, a aroeira, o zimbro e o célebre pinheiro manso. Aliás, a Mata dos Medos constitui-se como uma das grandes extensões nacionais de pinheiro manso; observámo-los, da estrada, ainda pequenos devido ao incêndio que há poucos anos devastou esta mata. Noutra paragem, alcançámos a falésia, cuja beleza paisagística não cabe em meras palavras. Pelo caminho, fomos reconhecendo a presença do tojo, como leguminosa que enriquece o sistema, a cebola albarram, o trovisqueiro (baga preta), as camarinheiras, o tomilho e aquele cheiro a caril que advém da perpétua das areias. É natural que as plantas mais aromáticas vivam em sítios com pouca água como aqui na arriba; o professor bem a propósito nos lembrou que a cozinha alentejana é aromática pela mesma razão.
| Aqui, o pinheiro bravo, virado ao mar, contorce-se à mercê do vento e perde a folha porque é pulverizado pelo piche, devido aos despejos que os navios fazem ao largo. De facto, este é só um exemplo de vegetação destruída devido à incúria do homem. Daqui também se avalia a erosão que abre flancos na falésia seccionando-a nos seus diversos estratos. É aqui que percebemos a destruição da arriba e a importância de se falar na sua preservação e de ser zona protegida tal como a Mata dos Medos. Esta prolonga-se até à Lagoa de Albufeira, embora este percurso interior seja interdito. Aliás, por esta razão, de toda a área protegida, apenas este sector entre a Fonte da Telha e a Lagoa de Albufeira se mantêm pouco alterado e perturbado. | Estorno (Ammophila arenaria) Camarinha (Corema album)
Cabo Espichel | Da estrada, avista-se o paul onde começa a Lagoa de Albufeira. No areal mais abrigado de passagem, acumulava-se um número indefinível de gaivotas. À berma da água, observámos a força da corrente que chega ao ponto de em quinze dias destruir a duna em que assenta, por enquanto, o restaurante já referido por esta característica, o local presta-se vulgarmente à prática de vela e windsurf.
Seguimos em direcção ao Cabo Espichel, onde não só alargámos a vista pelo horizonte como de novo verificámos o efeito da erosão nas paredes das falésias, chegando mesmo, nalguns locais, a escavar a parte inferior das bermas. Estamos numa zona aberta ao oceano, sujeita aos agentes erosivos marítimos. A pouca distância do promontório, descemos um caminho que, por um lado dá acesso à praia dos lagosteiros, por outro nos conduziu ao ponto de observação das pegadas de dinossauros. Com alguns auxiliares de visão, lá distinguimos claramente, cavados na rocha, alguns trilhos que vencem a barreira temporal e a própria erosão costeira. Mais curioso ainda foi verificar um outro conjunto de pegadas inscritas verticalmente, pensando simultaneamente no fenómeno que terá originado tal deslocação rochosa. Entretanto, quanto à vegetação descobrimo-la neste local tipicamente mais rasteira. A aroeira, o trovisqueiro e o carrasco são muito mais densos e baixos que em relação à Arriba, aqui assumem uma forma arbustiva, parecendo almofadas, não direi o mesmo para o carrasco cujo toque é mais agressivo. Também vimos a predominância da esteva, de folha muito gordurosa e a urze roxa que está em flor até Novembro. | Em conclusão, diria que levei desta visita uma visão de futuro porque tomei consciência mais precisa sobre medidas que estão ao alcance de todos para ajudar a proteger os ecossistemas de que, no fundo, fazemos parte. Sabe-se que, a nível mundial, é no litoral que há maior concentração populacional mas para além do aspecto económico, nunca teria pensado que também é nele que há maior biodiversidade e as mais variadas cadeias alimentares. Agora, compreendo o sentido da sua fragilidade resultante da intervenção humana. Por isso justifica-se a educação ambiental, mesmo para além da escola, até porque o progresso científico sustentado pelo grande poder económico já ganhou terreno e em Portugal, um pais essencialmente costeiro, faz todo o sentido trabalhar e preparar a geração futura para a conservação da nossa costa. |
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