Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

nietzsche

nietzsche


Entrámos dentro da casa, ambos com o sorriso estampado nos rostos, denotando satisfação e ao mesmo tempo misturado com uma certa apreensão  pela aventura que estávamos levando a cabo, o ambiente estava quase perfeito e propício ao romance.
 Colocou a sua tão  familiar maleta em cima da mesa de sala e de seguida, dirigiu-se decidida  em direcção à lareira na intenção de a acender, com aquele seu ar meio tímido e sensual... mas o resultado surtiu em vão de imediato, olhou para mim, sugerindo, calmamente, para me sentar.
 
 - Sente-se António, não faça cerimónia... Está frio, não está? Acho melhor acender a lareira, não acha que ficávamos mais aconchegados?
 
 Eu que sentia uns calores abrasadores, nem sequer tinha dado conta que de facto estava frio - Estávamos em pleno Inverno mais propriamente em Janeiro - mas, acenei com a cabeça concordando.
 Finalmente lá se fez chama e a lareira começou a fumegar e a dar os estalidos próprios da lenha ainda verde a queimar; aquela sensação gerou um ambiente convidativo a duas pessoas plenamente apaixonadas,  em que se extravasava toda a luxúria em direcção ao prazer sedutoramente descontrolado e ao mesmo tempo apaziguador.
 
 A sala tinha uma decoração toda ela  em tons claros, não com muito mobiliário, mas o suficiente para ser uma sala acolhedora, onde tudo estava colocado nos seus lugares próprios e cuidadosamente posicionados, com umas plantas espalhadas aqui e ali, estava de facto decorada com bom gosto, e convidava mesmo ao relaxamento. Senti-me descontraidamente bem naquele espaço, a sua envolvente era como uma cumplicidade à paz interiorizada que me dava a sensação de que sempre ali tinha estado tal era a serenidade. A luz do dia desvanecia-se e começava a caminhar para a noite com a mesma rapidez dos meus pensamentos
 
 - Sim concordo consigo, além de ficar um ambiente muito mais acolhedor e romântico também...
 António, quero fazer um pacto consigo, aceita?
 
 - De que se trata esse pacto, primeiro terei de saber qual será, só depois concordarei, ou não...
 
 - Afinal, não confia assim tanto em mim, hein...  Bem é o seguinte; uma vez que nos estamos a conhecer e a entender satisfatoriamente, pelo menos até aqui assim tem acontecido; gostaria que fizéssemos o seguinte pacto - eu nunca lhe farei qualquer tipo de pergunta relacionada com a sua vida pessoal, e você António, seguirá o mesmo princípio...  Quando eu o quiser fazer, será de minha livre e espontânea vontade, e você fará exactamente o mesmo. Concorda comigo? E agora vou lá acima vestir uma roupa mais prática que em casa gosto de andar à minha vontade, e você esperará aqui por mim, não se vá embora está bem...  - E sorriu, com a sensualidade tão característica que  demarcava o seu know how à distância dos demais, pela sua própria observação -  tem ali em cima daquele aparador bebidas se lhe apetecer, ou se quiser também pôr uma musiquinha, esteja à sua vontade, que eu não demoro nada. Depois me dá a resposta quando eu descer, OK!
 
 As reacções do ser humano são sobremaneira ilimitadas, consoante as situações em que as estejam a viver, nunca estamos conscientemente preparados para o que nos seja oculto ou inesperado nas nossas mentes. Limitamo-nos a viver o momento presente com menos ou mais intensidade, e só depois pensamos com saudade, quando nos encontramos sozinhos, nos acontecimentos que nos satisfazem ou, satisfizeram. Ela encontrava-se ausente, ainda não teriam passado mais de dez minutos, e eu já começava a sentir a sua falta com uma certa angústia incomodando a saudade.
 Pensei, por breves momentos, na sua proposta em relação ao pacto que acabava de me propor; pensei e conclui, que não era mais do que a sua maneira independente de se relacionar não só com o desconhecido mas sim uma caracterização da sua personalidade, de modo a fazer notar que era uma mulher segura dos seus propósitos e ideais, digamos que é uma mulher estilo ariana que nunca passa despercebida por onde quer que  passe. Sorri, e fui vasculhar mais de perto os imensos cd's, e tentar descobrir alguma coisa sobre os gostos desta mulher misteriosamente bela que me invadia a alma e me preenchia o coração descontrolado e perfeitamente "hipnotizado". Os gostos dela eram variados, pelo menos no respeitante à área musical; ia desde o pop-rock até à música erudita passando por reggae. Por aqui, não iria surtir o efeito desejado de satisfazer a minha curiosidade... Acabei por escolher um cd, pô-lo a tocar - Songs of Love and Hate -  de Leonard Cohen
 
 Quando me voltei, ela estava parada à entrada da sala a observar-me, e sorriu. Olhei para aquela mulher enigmática ali especada com o seu ar confiante e sedutoramente provocatória. Os meus olhos arregalaram de alegria e satisfação pela imagem que tinha à minha frente; vinha descalça, cobrindo o seu corpo trazia somente uma camisa masculina vestida, azul clara, de "Ralph Lauren", de mangas arregaçadas com duas ou três dobras, e os dois primeiros botões desabotoados, deixando aparecer uma ponta do soutien. O meu sangue ferveu e o desejo de a possuir naquele momento evadiu-me totalmente. Ela continuava no mesmo sítio sorrindo, diz simplesmente:
 - Boa escolha, António!

 Leonard Cohen Ouvir





















13 comentários

Comentar post

Pág. 1/2